domingo, 19 de abril de 2009

Ia, mas não foi

“Vai pra onde?” Pergunta comum em se tratando de feriados. É Carnaval, Semana Santa, Reveillon. Basta uma data dessa se aproximar que já começa logo a falação. Todos querem saber para onde o outro vai. Normalmente é curiosidade mesmo. Ou pra puxar assunto. Praticamente um ato reflexo. É mais ou menos como ver uma mulher grávida e perguntar: “Ta de quantos meses?”

A resposta é o de menos. Muitas vezes nem importa. Ainda assim a dúvida é uma constante. Acontece sempre. Quem nunca foi questionado a respeito? Quem nunca fez uma pergunta do tipo?

Mas todo feriado é a mesma coisa. Depois da pergunta, vem logo alguém e diz que ‘ia’ pra algum lugar. “Rapaz, eu ‘ia’ pro Rio, mas nem vai dar”. Olinda, Salvador, Cabrobó, Quixadá, o que for. O que interessa é que o cara ‘ia’, mas não foi!

Na prática é a mesma situação de quem ‘não ia’. Também não viajou, não saiu de casa. Ficou na vontade. Não vai tirar fotos, nem ter história pra contar. Vai é dormir cedo, matar o tempo na Internet, torcer pras horas passarem voando.

Ah, mas não é bem assim. Ele ‘ia’! Tem um certo status nisso aí. Dá pra ver nas reações. “Porra, você ia mesmo?!”. Por mais que o sujeito não tenha ido, parece até que foi. Ganha uma moralzinha.

Tem gente que se aproveita. Feriadão chegando, especulações a mil e ele depende de uma carona nada provável. O carro ta cheio, mas tem um lá no bolo que ta na dúvida. Pronto, o cenário perfeito. O esperto já vai dizer que vai, pra depois dizer que ‘ia’.

A cada feriado ele ‘ia’ pra um lugar diferente. Em todos ficou em casa, mas antes ‘ia’. Quando foi, foi a um lugar que não vale nem comentar.

O efeito ‘ia’ é comum também para festas, shows, grandes eventos. Se às vésperas todos vão, no dia seguinte muitos ‘iam’. Colocam-se num meio termo, entre os que foram e os que nem cogitavam ir.

Foi justamente numa dessas que atentei para a questão. Ao ouvir uma música de Lulu Santos um amigo se recorda que certa feita 'ia' para um de seus shows. Juntou uma turma, separou a grana, começou a beber dois dias antes. Quando é chegada a hora, o show foi cancelado.

Como até hoje não teve outra oportunidade, só lhe resta dizer que ‘ia’ – mas não foi.