segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pediu? Levou!

Não demos nomes aos bois. Zona rural num dos povoados de certo município sergipano. Muito mato, muito bicho, pouca gente. Quando o sol aperta e não chove, é bronca. Quando o sol se vai e chove demais, é ruim também. Quando chega a noite, não há muito o que fazer, nem o que ver: nem luz elétrica tem. Quem mora na capital e reflete sobre a cena não se imagina ali. Quem mora ali e chega na 'capitá' fica todo desorientado.

Em meio ao nada, algumas casinhas de reboco onde as famílias sobrevivem do que plantam. Um prato cheio para qualquer sujeito mal-intencionado - só não há muito o que comer ou levar. Mas para ladrão que faz fama nessas bandas, qualquer migalha é lucro.

Meia dúzia de desocupados tocam o terror nas redondezas. Na madrugada, invadem as casas, tão humildes, tão vulneráveis. Fazem o rapa sem dó. Como se não bastasse, maltratam os agricultores. Chingam, batem, ameaçam. Com receio de serem pegos, exigem o silêncio. É isso ou tem mais depois.

Mas um senhorzinho corajoso resolve denunciar os 'marginá'. Na noite anterior, apanhou que só, coitado, mas não ficou por isso. Todo inchado das pancadas, botou a boca no mundo. Acionou os amigos, os primos, a policia, tudo quanto é gente. A falação ganhou força na região, caiu nas pautas dos jornais.

- “O que ouve aqui meu senhor?”, pergunta o repórter de uma emissora local.

Inquieto, o velhinho não esconde sua sede de vingança e desembesta a falar...

- “Eu tava dormindo e acordei levando um chute. Eu caí, aí eles me pegaram no cabelo e começaram a dar tapa e perguntar onde tava o tal do dinheiro. Mas eu não tinha nada rapaz...”

Situação complicada viveu o sujeito. Apanhava enquanto não entregava um dinheiro que nem existia. Das duas uma: ou os cabras paravam por cansar de bater e partiam para outra vizinhança ou lhe davam um fim de vez. Pior que o negócio começou a pender para o pior.

- “Eles me bateram, bateram, até enjoar. Depois teve um que apontou uma arma em minha cara e disse: 'Agora eu vou te matar!'”

O repórter não pensou duas vezes: trouxe o microfone para si e mandou:

- “E o que o senhor pensou nessa hora?”

O rapaz da imprensa tentou ser esperto. Esperava algo do tipo 'Ah, eu pensei em meus filhos e netos' ou 'Imaginei que não ia ver mais minha esposa', ou ainda 'Lembrei de minha vida dura, meu pedacinho de terra, minhas galinhas'. Nada disso. Pergunta mais besta! Naquela roça no meio do nada, colheu o que plantou:

- “Eu pensei que ia morrer né!”