sábado, 28 de fevereiro de 2009

A bandeira da Líbia

Pra ‘passar de ano’ em Geografia o guri tem decorar um monte de coisa. É nome de país, capital de estado, estação do ano e por aí vai. É tanta ‘decoreba’ que às vezes o moleque se empolga e sai gravando mais que a encomenda.

Numa dessas inventa de memorizar tudo que é bandeira. Começa pelo ‘feijão com arroz’, as que a turma toda já sabe. Depois quer alçar vôos mais altos. Quanto mais longe e desconhecido o país, melhor de saber. Mais fácil de impressionar os colegas.

Há anos e anos eu gostava de conhecer as bandeiras. E essa ladainha toda me faz lembrar uma em especial: a da Líbia.

É a mais fácil de todas, não tem como errar. Você bate o olho e pronto: conhecimento adquirido. Difícil mesmo é dificultar o jeito de descrevê-la. Mas vamos lá: pode-se dizer que ela é verde, com detalhes em verde e com inscrições verdes. É, ela é toda verde.

Para os rebuscados um “estandarte monocromático verde”. Para os piadistas uma forma de as crianças libanesas memorizarem facilmente.

O fato é que relembrar a bandeira da Líbia me despertou a curiosidade sobre sua origem. Nada que o Google não resolva - ao menos assim eu pensava. Faço uma busca rápida e impaciente e nada de encontrar a solução. Não a definitiva, ainda. No contexto deve haver indícios.

Foi adotada em 1977, após a revolução do coronel Muammar Kadhafi. Um cara aí que deu um golpe, derrubou o rei e abraçou a causa do socialismo. Aí estatizou tudo. Quem era de fora e estava lá ele mandou pra casa. Fez todo tipo de revolução: cultural, social, econômica.

Quando não tinha mais o que fazer foi enjoar os Estados Unidos. Resultado: ficaram de mal um tempão. Só ano passado que fizeram as pazes de vez. E Kadhafi esse tempo todo por lá. E a bandeira até hoje é sem graça.

Sim, e o significado, onde é que ta mesmo? Sei lá, vai ver tem a ver.

Mas também li um pouco sobre outros aspectos. O país fica no norte da África. Seus vizinhos mais ilustres são o Mar Mediterrâneo (ao norte) e o Egito (a leste). O idioma é o árabe, quase todo mundo é muçulmano e praticamente não tem florestas – quem achava que era mamada se deu mal.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Joop Adam

Esses dias conheci um gringo quase meu xará - com esse ‘agá’ e acento no ‘á’ ta meio difícil achar um xará 100%. Joop Adam, o nome do figura. Velejador sul-africano, ancorou sua embarcação à beira do rio Sergipe, ao lado do Iate Clube de Aracaju.

Chegou na noite da última quarta-feira, dia 25, com a mulher e o filho. Estava em Salvador. Participou da ‘Cape to Bahia’, uma competição naval realizada a cada quatro anos. A regata tem início na Cidade do Cabo (Cape Town), na África do Sul, e chegada na capital baiana – daí o nome.

Já meu trajeto partiu de um boato. Na quinta-feira ventilaram na redação algo sobre um velejador que iria percorrer a costa brasileira e acabara de chegar por aqui. É, Aracaju é mesmo uma capital com jeitão de interior. O cara chega à noite e no dia seguinte já tem gente lá 'enchendo o saco'.

Recebi a ‘missão’ e fui ao seu encontro (sem que ele soubesse) com alguns amigos do trabalho. A idéia era ver o que o ilustre visitante estava achando de nossa cidade. Chegamos e nada do homem. “Está no ‘barco’”, alguém diz.

Joop deixa sua embarcação a uns 50 metros da ‘terra’. Boa parte do dia fica por lá. Mas falar com ele não é difícil. Um aceno de longe e ele vem. Tem uma espécie de caiaque que utiliza para ir do veleiro até o solo. Cabe ele e mais um.

Hospitaleiro, logo convida a todos para visitarem seu lar. Nem conhece nosso idioma, então fala e gesticula ao mesmo tempo. Loiro de olhos claros, jeitão observador, sempre atento, quem vê logo nota que não é daqui. Pele avermelhada, barba por fazer: sinais de quem vive no mar.

Sem maiores problemas responde às perguntas. Conta sobre sua aventura.

Terminada a corrida, decidiu conhecer o litoral brasileiro. A princípio não pensava em seguir viagem, mas a paixão pelo mar falou mais alto. Sobre a capital de Sergipe nunca ouviu falar. Ficou mesmo pela tranqüilidade. “Aqui não tem muita gente velejando”, comenta.

A princípio um lugar desconhecido, hoje uma grata surpresa. “A cidade é muito bonita e limpa”, ressalta o visitante, que já fez um breve passeio pelas ruas do município.

Em seu primeiro dia em solo aracajuano, Joop tomou um ônibus coletivo em direção a um dos shoppings centers da cidade. A dificuldade do idioma não serviu de empecilho. Sozinho foi e retornou. No caminho viu um pouco mais da cidade e de seu povo. “As pessoas aqui são bem amigáveis e prestativas”, destaca.

O sul-africano afirma conhecer diversos países da Europa e Ásia. Por aqui pretende ficar mais uns dias e conhecer melhor os atrativos da cidade. “Fico mais umas quatro ou cinco noites”, comenta.

Da capital de Sergipe Joop parte para a capital de Pernambuco, antes de seguir viagem por toda a América do Sul, depois Central e assim por diante. Seu objetivo não é nada modesto: quer dar a volta ao mundo. Até o momento diz ter percorrido 12mil milhas – algo em torno de 19mil quilômetros.


Fotos: Silvio Rocha

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Santa das Correntes

Um breve passeio pela cidade de Penedo (AL) revela um povo historicamente religioso. Lá há mais igrejas que supermercados ou praças. Dentre tantas está a Igreja Nossa Senhora das Correntes. Fica logo numa das portas de entrada do município, à beira do rio São Francisco. Para chegar nela basta descer da balsa, dobrar à esquerda e seguir reto. Não tem erro, vai ‘dar de cara’.

Na fachada paredes com as cores desgastadas, corroídas pelo tempo. Nas formas, à primeira vista nada de incomum. Desenho igual ao de tantas outras: duas torres com dois sinos, janelas alinhadas, um crucifixo ao centro. Mas os estudiosos a consideram uma igreja ‘eclética’. Dizem que reúne três estilos: barroco, neoclássico e rococó.

À direita da porta de acesso uma discreta placa em acrílico traz uma sinopse da história da construção. Teve início em 1720, ficou pronta em 1765. Se não é a mais antiga das redondezas (a catedral do município data do século XVII) ao menos é a mais rodeada de mistérios. A origem do nome é uma incógnita. Nossa Senhora das Correntes nem consta no calendário litúrgico da Igreja. São várias as hipóteses. Três predominam.

A primeira diz que naquele mesmo lugar funcionava um oratório mantido por pescadores. De tempos em tempos, os ‘homens do mar’ viam-se obrigados a conviverem com uma realidade nada agradável: quando a maré subia, a correnteza derrubava o prédio, que tinha que ser refeito. Cansados da situação, que quando menos se esperava tornava a acontecer, eles fizeram uma promessa: caso a correnteza não avançasse mais a ponto de derrubar o oratório, ele levaria o nome da santa.

A segunda é mais simples. Fala que os moradores das adjacências ouviam com freqüência o barulho de correntes ao longo da ladeira situada à direita da igreja – talvez em reflexo do tráfico de escravos que era feito bem ali pertinho, no porto de Penedo.

Já a terceira teoria é a mais contada. Inclusive pela senhora Valdice Ferro Lessa, que hoje sobrevive de recepcionar os turistas que visitam o local. Simpática, risonha, de baixa estatura, deve ter seus quarenta e poucos anos. A nove trabalha no local. Basta dar um passo adentro que ela logo o cumprimenta e começa a contar o que sabe. Sem esquecer uma palavra sequer, conta quantas vezes for necessário.

Segundo ela, a igreja foi construída por uma família portuguesa de sobrenome Lemos. André de Lemos Ribeiro, o patriarca, não suportava ver um escravo acorrentado. Pelo contrário. Abolicionista, o senhor de engenho (estranho né, senhor de engenho abolicionista...) fazia questão de proteger os negros foragidos que iam lhe pedir ajuda. A tática era sempre a mesma: abrigava os fujões em um cubículo localizado à esquerda da imagem de Nossa Senhora das Dores, no interior da igreja.

“É um cantinho bem apertado; cabiam no máximo três escravos. Eles tinham que ficar trancados ali uns dois dias, podendo apenas transitar pelo interior da Igreja durante a noite”, conta Valdice. O prazo era o necessário para que André de Lemos providenciasse cartas de alforria falsificadas e lhes entregasse, livrando-os das correntes de uma vez por todas.

Hoje em dia não são realizadas missas na Nossa Senhora das Correntes – não há nem assentos onde se costuma ver. Aliás, não se sabe nem a última vez em que foi realizado um culto religioso ali. Mantido pela prefeitura, o local virou ponto turístico e patrimônio histórico (tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -IPHAN - em 1964). A última restauração completa aconteceu em 2002, em uma parceria com o Ministério da Cultura.

Além da própria história, muitas curiosidades podem ser constatadas por quem vai à ‘Igreja das Correntes’ – conforme Valdice, em média 50 pessoas a visitam diariamente. Uma delas está ao final do corredor à direita do altar: lá se encontram algumas urnas contendo restos mortais intactos de familiares da família Lemos.

Estive em Penedo e conheci a Igreja Nossa Senhora das Correntes. Foi quando aproveitei para escrever este texto. Cidadezinha um pouco parada (como é comum em municípios do interior), mas bem cuidada. Ruas limpas, prédios históricos conservados e por aí vai. Na oportunidade tive acesso a livros históricos e um guia turístico local. Em todos os casos as capas estampam fotos da Igreja da Santa das Correntes.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O enfermeiro, o ‘doutô’ e o acidente

Ao final vai parecer piada, mas o causo é verídico. No dia não foi bem assim, mas foi parecido. É que esse tipo de história a gente escuta e já conta de outra forma. Não de propósito, mas sempre passa um detalhezinho a mais ou a menos. E olha que o rapaz que me contou já ouviu de um outro, que por sua vez soube por um amigo do primo de seu vizinho. E cá entre nós, esse amigo num é muito certo das idéias não. De qualquer forma aconteceu, dizem.

A primeira parte tem início num boteco no centro histórico de Salvador. Lá está o ‘doutor médico’ Julio Dias, o Julião. Sessentão, cabeleira farta, físico cansado, saúde decadente. Mas disposição e bom humor não lhe faltam. Se está com os amigos ‘tomando uma’ então, é risadaria pra todo lado. Conceituado, carrega no currículo mais de trinta anos de medicina, centenas de vidas salvas, milhares de doenças curadas, mais um monte de conselhos dados e engradados de cerveja consumidos. “Mas nunca fumei!”, se orgulha.

Pinguço todo, não dispensa a companhia de seu braço direito: o enfermeiro e amigo Ninho. Mulato, franzino, a cara de assustado e o jeito afobado lhe são peculiares. Em tudo concorda com Julião. Seu nome correto poucos sabem. Também nem pergunte. “Só Ninho mesmo, ‘praquê’ mais?”, diz logo nervoso. Talvez carregue consigo um fardo. Um nome escabroso. No interior tem dessas coisas.

É, eles são do interior. De um município chamado Sátiro Dias, situado no Nordeste da Bahia, a uns 205 quilômetros da capital. Lá se passa a segunda parte da história. Ou melhor, numa estrada próxima a um povoado pertinho de lá. De nome sugestivo: Mimoso. Um lugarzinho (e bota ‘inho’ nisso) onde todos se conhecem, todos se veem todos os dias, todos vão à missa aos domingos, todos sabem de tudo uns dos outros.

Estamos no final da tarde de sábado. Enquanto o ‘doutô’ Julião termina de ‘encher a cara’ com o inseparável Ninho, três dezenas de bóias-frias amontoam tudo o que colheram em mais um cansativo dia de trabalho na roça. À beira da estrada entre o Mimoso e Sátiro Dias, um pau-de-arara os espera. Caminhãozinho velho, corroído pelo tempo. Verdadeira sucata, quem o vê parado nem imagina que é capaz de se mover. E vai levar todo mundo pra cidade.

Já é noite quando o doutor e o enfermeiro tomam o rumo de volta à terra de origem. Já é noite e os trabalhadores da roça seguem carregando o caminhão com sacos e mais sacos de tudo que é fruta e verdura. Falta pouco até que todos se cruzem.

Mais algumas horas e a velharia parte conduzindo bóias-frias e colheita. Na escuridão nada se vê. Os faróis estão danificados. A estrada é boa, mas o relevo é instável. Subidas, descidas, curvas acentuadas. Numa delas acontece o inesperado. Uma tragédia. Algo que se não tivesse ocorrido eu nem tinha começado com essa prosa toda.

O veículo chega ao meio da curva quando um animal atravessa a pista. O motorista tenta desviar. Até consegue, mas capota. O resultado não poderia ser diferente: pela via estreita os pobre-coitados vão caindo e rolando. Por entre eles é laranja prum lado, jaca pro outro...uma novela só.

O silêncio da madrugada é interrompido por gritos e mais gritos de socorro. Gritos altos e vazios. No meio do nada as esperanças de ajuda são poucas. Celular ninguém tem. É ‘coisa de barão’. E mesmo que tivesse, lá não pega. A cena é triste. Os homens tentam reanimar os feridos mais graves de alguma forma, as senhoras rezam com fervor, as crianças choram. Todos torcem por um milagre.

A meio quilômetro dali Julião e Ninho não veem a hora de chegar em casa. Rever amigos, familiares, contar como foi passar o dia na capital. Até então uma viagem tranqüila, sem maiores problemas. Por sorte nenhuma blitz. Não é tempo de ‘lei-seca’, mas do jeito que está é que não dá pra ficar (e muito menos pra dirigir).

- “Ô Ninho, que é aquilo ali? Acho que bebi demais e tô vendo coisa”, exclama Julião arregalando os olhos.

- “Eita doutô, tem um caminhão ‘virado’. É acidente! Para, para!”, se desespera o enfermeiro.

Julião então encosta o veículo e os dois vão prestar socorro.

- “E agora, é muito ferido pra pouco doutô!”, lamenta Ninho.

- “Ô Ninho, para de falar besteira e faz o seguinte: na direita do caminhão você põe quem ‘já foi’ e na esquerda os feridos. Bora organizar essa 'bodega' aqui pra salvar quem ainda tem chance”, exclama o doutor.

Uns pra lá, outros pra cá. Devagarzinho, com cuidado, tudo vai se ajeitando. A situação vai sendo controlada. Para alívio geral, um outro carro passa e o motorista se compromete em encaminhar uma ambulância assim que chegar a Sátiro.

Falta pouco, e eis que aí surge o inusitado.

- “Ninho, olha pra cá: num dá pra esse aqui mais não, leva pra direita que já vou socorrendo aquele”, aponta o médico dando as últimas orientações.

Certo do que está fazendo (afinal quem mandou foi o ‘doutô’), lá vai Ninho segurando firme a perna e arrastando mais um defunto, levando-o para o local indicado. “Ôxe, tem coisa errada aqui”, reflete ao perceber algo atípico em se tratanto de um falecido: o homem se mexe. “Ei rapaz, eu tô vivo! Ta me puxando pra onde?!”, diz agoniado – mesmo no chão, em estado de choque, ele havia escutado as orientações do médico. “Me leva pro outro lado ‘fi da pé’, num ta vendo que o doutô pode me ‘sarvar’”.

O rapaz esperneia, tenta explicar de todo jeito, quer apenas provar que está vivo, coitado. Mas Ninho é irredutível. O que está em jogo ali é a palavra de seu amigo, patrão e grande ídolo. Ele nem pensa duas vezes antes de contestar o ‘morto-vivo’: “E você quer saber mais que o doutô é 'homi'?!”.

Sátiro Dias é a terra natal de toda a familia de minha mãe, a dona Márcia. Essa história me foi contada pelo meu tio Marcelo Torres - grande jornalista que hoje mora em Brasília - quando estivemos juntos no início deste ano.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Futebolês virtual




Má é apenas mais um dos milhões de garotos brasileiros viciados em futebol virtual. Como muitos nessa turma toda, gosta mas não joga bem. Esforçado, pratica muito e ainda assim é ‘ruim demais’. Sem talento, não nasceu para a coisa. Quem assiste às suas partidas sempre torce por ele. Queira ou não é do ser humano pender para as minorias, defender (ou torcer para) os mais fracos.

Aos sábados e domingos é fácil encontrar Má jogando na casa de fulano de tal (o dono do videogame ou alguém que pegou emprestado). Nos dias ‘úteis’ ele também dá um jeito. Pintou um horário vago na escola, vai para a ‘locadora’. Se não pintou, mata a aula e vai do mesmo jeito. Faz tudo isso mas não é bom no jogo. Nem razoável, é ruim mesmo.

Não à toa Má sempre é o alvo das gozações. Jogar contra ele é o mesmo que ‘cumprir tabela’, ir lá ‘buscar os três pontos’. No futebol real seria inevitável escalar o time reserva se poupando para os jogos que interessam de verdade. Só há um único jeito de tornar o jogo contra Má interessante: entrar na disputa pra ver quem ‘ganha de mais’ (quem faz mais gols nele). De repente o saldo pode contar na hora do desempate.

Má é ‘freguês’ de todos. ‘Lanterninha’ continuamente. Sua alegria é jogar contra ‘o computador’ no nível mais fácil. Aí ele deita e rola.

Mas redenção mesmo vem quando a vitória é contra um dos ‘amigos-rivais’. De preferência contra aquele figura que cansa de ‘mangar de sua cara’ – porque sempre tem o que ganha e fica quieto e o que ganha e enche o saco. Aí Má também não perde a oportunidade de ‘tirar sua onda’. É hora de ‘perturbar’, ‘pirraçar’, ‘fazer pegar A’.

“Ah, a que vale é a última”, não cansa de dizer. Difícil mesmo é conseguir enfrentá-lo mais uma vez. Para Má se a que vale é a última, então que a última seja a última mesmo. Desculpas e mais desculpas antes de uma nova partida. Assim ele pode se vangloriar por um bom tempo sem arriscar um novo revés – que ele sabe que virá caso torne a jogar.

O grande problema (dos outros) é que para ter alguma chance nas partidas Má encontrou a solução: dar carrinho sem parar. “Pelo menos segura o jogo, arranca um empate”. Melhor que isso, “de repente até dá ‘uma cagada’ e faz um golzinho no contra-ataque”.

Desde então jogar contra Má é sinônimo de ‘barriação’. A partida começa e é carrinho de todo tipo. Pontapé inicial, carrinho. Bola pro alto, carrinho. Jogador adversário dominou a bola, carrinho. Bola em disputa, carrinho. Vai sofrer o gol, carrinho, empurrão, aperta tudo quanto é botão.

Se o outro ‘não se agüenta’ o jeito é xingar (geralmente a mãe) ou questionar a opção sexual (“Cê é ‘viado’ é Má?”) – mesmo ciente de que nada tem a ver uma coisa com a outra. Se a raiva acumula e os carrinhos não param ‘lá vem bronca’. É ‘controle’ no chão, frases de baixo calão (“Vou ‘resetar’ essa porra!”) e mais todo tipo de agressão (vide vídeo).

Existem muitos ‘Más’ por aí. Não tenho dúvidas de que todos que jogam ou já jogaram (quem nunca jogou?) videogame conhecem um. Esse vídeo me fez lembrar ao menos uns três amigos que se enquadrariam facilmente no perfil do nosso herói. Não vou citar nomes...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um tal de Zé pintor















Há meses a residência está lá. Imponente, na esquina, todos a veem. Um senhor investimento para os padrões dali. O dono ninguém viu, ninguém vê, não se sabe quem é. Mas também não importa. Já está pronta, tudo em cima. Paredes, laje, telhado, portas, janelas. Mas peraí, falta uma coisa: não tem cor. Fizeram, mas não pintaram.

Passa o tempo, o tempo passa e eis que da noite pro dia surge a solução: liga pro ‘seu’ Zé, o pintor. “Pinturas predial, residencial”, o cabra é bom!

Na vizinhança o bochicho logo se espalha. Não se fala em outra coisa. Quem foi ali e ‘pintô’? Para uns uma piada, para outros uma inovadora investida mercadológica. Afinal, o Zé existe? Seria ele um gaiato ou um gênio?

A desconfiança impera. Todos querem saber do autor. Olhares suspeitos de uns para os outros. À cena do crime dizem que o criminoso sempre retorna. Ainda assim não tem como descobrir. Por incrível que pareça não há 'Josés' no bairro. Também se fosse o caso já iria ‘dar na cara’ – ou levantar uma falsa suspeita. Ligar é arriscado. Pode ser armada, trote, brincadeira de mau gosto. Uma coisa é certa: as evidências são poucas e de pouco valor.

Eis uma delas: seu forte não é o português. No residencial cravou um ‘zê’, antes de suscitar uma certa dúvida após o segundo ‘é’. No desespero fez de qualquer jeito: vai o ‘cê’ por cima do ‘êne’ (ou ‘ême’?) e ta tudo certo. No improviso, na pressa, mas foi. Ta passada a mensagem. Se a idéia foi causar polêmica, conseguiu...

Tirei esta foto há algum tempo, de passagem numa certa rua do bairro Ponto Novo. Vi a cena e não resisti. Provavelmente hoje a casa já está até pintada, só não sei se pelas mãos do tal do Zé. Aliás, ainda não sei se o dito cujo existe. Ah! Quer saber, alguém liga aí e vê se chama...