segunda-feira, 26 de abril de 2010

O futebol carioca e o mal do vice

Não precisa conhecer muito de futebol para saber que o Campeonato Carioca é dividido em dois turnos – ou taças Guanabara e Rio. Para ser campeão, é preciso vencer um dos turnos, mais o confronto direto com o primeiro colocado do outro turno. A outra opção é menos comum: acontece quando o mesmo clube vence os dois turnos.

Tão incomum que não acontecia desde 1998, com o Vasco – há quem diga que a explicação está na renda vinda dos jogos extras entre os vencedores dos turnos. Mas este ano voltou a ocorrer. Após três vices (em títulos do Flamengo), eis que o Botafogo é o campeão.

Mas o campeonato carioca tem uma particularidade que muitas vezes transcende a disputa pelo título. Mais que o caneco, prevalece o receio de não ser o vice. Já diz aquela máxima: ‘o segundo lugar é o primeiro dos últimos’. Seja lá quem a criou, se não for carioca, na certa passou pelo Rio.

Desde que acompanho toda essa ladainha de vice, bi-vice, tri-vice etc, lá pelo finalzinho da década de 90, início dos anos 2000, lembro bem que o Vasco era o alvo das gozações (tri-vice: 99,00,01). De uns anos para cá, o Botafogo herdou o posto. Já o Fluminense sempre foi cauteloso. Antes de arriscar o vice apertava o freio. Resultado: já foi terceiro ou quarto colocado 35 vezes.

A favor dos anti-flamengo está a história. Embora muitos não lembrem, o time mais popular do país já foi vice-campeão carioca 29 vezes – mais que Vasco (23), Botafogo (17) ou Fluminense (20). “Ah, mas e este ano?”

É aí que está. Como perderam a final do segundo turno, os flamenguistas têm sido alvo da fuleragem. O que ninguém fala é que o Botafogo levou as duas taças. Campeão direto. Se o Flamengo perdeu o segundo, o Vasco foi à final e perdeu o primeiro.

Para acalmar os ânimos, proponho a solução: como o vice-campeão é justamente o time derrotado no confronto direto entre os campeões dos turnos, declaremos o Glorioso campeão e vice do Cariocão 2010. Salve o Botafogo, levou tudo!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pediu? Levou!

Não demos nomes aos bois. Zona rural num dos povoados de certo município sergipano. Muito mato, muito bicho, pouca gente. Quando o sol aperta e não chove, é bronca. Quando o sol se vai e chove demais, é ruim também. Quando chega a noite, não há muito o que fazer, nem o que ver: nem luz elétrica tem. Quem mora na capital e reflete sobre a cena não se imagina ali. Quem mora ali e chega na 'capitá' fica todo desorientado.

Em meio ao nada, algumas casinhas de reboco onde as famílias sobrevivem do que plantam. Um prato cheio para qualquer sujeito mal-intencionado - só não há muito o que comer ou levar. Mas para ladrão que faz fama nessas bandas, qualquer migalha é lucro.

Meia dúzia de desocupados tocam o terror nas redondezas. Na madrugada, invadem as casas, tão humildes, tão vulneráveis. Fazem o rapa sem dó. Como se não bastasse, maltratam os agricultores. Chingam, batem, ameaçam. Com receio de serem pegos, exigem o silêncio. É isso ou tem mais depois.

Mas um senhorzinho corajoso resolve denunciar os 'marginá'. Na noite anterior, apanhou que só, coitado, mas não ficou por isso. Todo inchado das pancadas, botou a boca no mundo. Acionou os amigos, os primos, a policia, tudo quanto é gente. A falação ganhou força na região, caiu nas pautas dos jornais.

- “O que ouve aqui meu senhor?”, pergunta o repórter de uma emissora local.

Inquieto, o velhinho não esconde sua sede de vingança e desembesta a falar...

- “Eu tava dormindo e acordei levando um chute. Eu caí, aí eles me pegaram no cabelo e começaram a dar tapa e perguntar onde tava o tal do dinheiro. Mas eu não tinha nada rapaz...”

Situação complicada viveu o sujeito. Apanhava enquanto não entregava um dinheiro que nem existia. Das duas uma: ou os cabras paravam por cansar de bater e partiam para outra vizinhança ou lhe davam um fim de vez. Pior que o negócio começou a pender para o pior.

- “Eles me bateram, bateram, até enjoar. Depois teve um que apontou uma arma em minha cara e disse: 'Agora eu vou te matar!'”

O repórter não pensou duas vezes: trouxe o microfone para si e mandou:

- “E o que o senhor pensou nessa hora?”

O rapaz da imprensa tentou ser esperto. Esperava algo do tipo 'Ah, eu pensei em meus filhos e netos' ou 'Imaginei que não ia ver mais minha esposa', ou ainda 'Lembrei de minha vida dura, meu pedacinho de terra, minhas galinhas'. Nada disso. Pergunta mais besta! Naquela roça no meio do nada, colheu o que plantou:

- “Eu pensei que ia morrer né!”