
E é justamente por isso que dar esmolas não agrada a muita gente. Eu mesmo não gosto. Digo logo que to sem trocado e pronto: problema resolvido. Aliás, essa é a desculpa mais comum. Ninguém vai argumentar que serve o graúdo mesmo ou que troca o dinheiro pra você. Aí também já seria um tiro no pé.
Mas recentemente passei por uma que não teve jeito. O contexto foi altamente desfavorável à minha capacidade de fugir da situação. Aconteceu no terminal de ônibus Leonel Brizola, aqui em Aracaju, onde a passagem custa R$1,95 – se o cidadão está sem o cartão de passe escolar ou o de vale-transporte, é troco na certa.
Por ter pagado com uma nota de R$5, fui premiado com um monte de moedas. Passei pela catraca enquanto tentava depositá-las no bolso. Mas fui interrompido: “Senhor, me dá uma moedinha dessas pelo amor de Deus”. Era o José Ignácio. Que eu ainda nem sabia quem era, mas procurei saber instantes depois de lhe dar parte do meu troco.
Rapaz esperto. Fica ali, sentado num banquinho bem ao lado da bilheteria do terminal. É pegar
Já que o ônibus não vinha, conversei um pouco com o José. Quis saber se essa abordagem esperta dá certo mesmo ou se eu é que ando muito caridoso. E dá. De troco em troco, diz ele que chega a tirar uma média de R$30 por dia.
Isso quando tem a oportunidade de pedir por ali. É que o ‘ponto’ é de uma mendiga conhecida. “Quem pede aqui é uma amiga minha”, conta seu José. Mas a amiga viajou e cedeu o espaço. “Aí tô aproveitando né”.