quarta-feira, 20 de maio de 2009

Uma de Silvio Rocha

O fotógrafo Silvio Rocha é a alegria das tardes na redação. Pra tudo tem uma piada. Se não tem, improvisa. Às vezes nem é piada, mas do jeito que ele conta todo mundo ri. Rir e fazer rir são com ele mesmo.

Quando chega já é mostrando os dentes. Blusa de botão, calça jeans, sapato social, o visual é basicamente igual. Estatura elevada, passadas largas. “É uma luta”, diz logo que chega. Logo que sai também; quando fala com alguém de passagem; quando atende uma ligação... “É uma luta” pra tudo que é lado. Não há como ouvir isso e não lembrar dele.

Silvio é cantor também. E dos bons. Tem CD gravado, ta sempre fazendo show, foi até personagem de um especial de TV sobre artistas locais. Mais do que justo, afinal é um ferrenho defensor dos sons da terra. Grupo local gravando em inglês? Pergunta o que ele acha disso. Vira e mexe Silvio ainda arruma tempo pra compor. De vez em quando até concilia as coisas: é tirando foto e compondo e cantando.

Mas vamos ao que motivou o texto. Dia desses Silvio passou por uma que ele não vai esquecer tão cedo – e olha que a memória não é seu forte. Na verdade mais uma entre tantas outras nessa vida muito bem vivida. A diferença é que eu tava perto e vi – e ouvi também.

Há dias seu carro estava sujo. Queria lavar, mas não encontrava tempo. Há dias pensava numa alternativa. Eis que na redação um certo funcionário aparece com a solução: “leva lá no meu postinho”. O cara agora é ‘pequenomicroempresário’. Dono de postinho de lavagem. Tem até um nome bonitinho ó: “Autobrilho”.

Mas a encomenda saiu melhor que a pedida. “Pra colega de trabalho tem desconto: é R$20, mas eu faço por R$10 e ainda levo o carro”. Pronto, ta resolvido o problema. “O pessoal é bom: tudo lavador de primeira. Os produtos são tudo de primeira também”, diz – na verdade até a lavagem seria a primeira.

“Vixe Silvio, dezinho só! Se deu bem”, comento com ele. “Ei rapaz, dezão. Valoriza aí”, responde logo todo risonho. To dizendo que o cara tem piada pra tudo.

As horas passam no trabalho. Tranqüilo Silvio aguarda seu já cansado Peugeot 206 vermelho ano 2000 vir todo limpinho. É só lembrar que chega dá vontade de sair. “Ah, hoje tenho que arrumar um lugar pra ir”. Nem imaginava o que estava por vir.

Eis que o celular toca. “Rapaz, lascou tudo: o carro num quer ligar mais não”. Alguém direto do Autobrilho. “Já tentei de tudo aqui e num tem jeito”.

Silvio Rocha inverte a feição. Joga fora o sorriso e fica todo perdido. É hora de raciocinar. Tentar deduzir o que se passa. E tome-lhe achismo. “Acho que molharam onde não se deve e algo pifou”. Na redação alguém dá a dica: “se queimar de segunda acho que pega Silvio”.

Pega nada. Coitado de Silvio: de uma pechincha, caiu numa bronca das brabas. Conversa vai, conversa vem (pulando um monte de parte sem graça), só um técnico encontra a solução: queimou uma peça que não tem em canto nenhum. E o pior é que pra encomendar é quase o preço do carro.

E aí? E aí que se fosse com qualquer outro o mundo tava acabado. Mas o homem é popular. Aí a história é outra. Não sei lá como, o filho de Deus descobre que em um povoado próximo a Umbaúba – uma cidadezinha a 100 quilômetros da capital conhecida sobretudo por ser a segunda a ser encontrada quando se entra no estado de Sergipe pelo sul, ufa! – tem um senhor que tem a peça!

Silvio vai buscar e problema resolvido. Não sem uma despesinha de leve. Negociou, pechinchou, parcelou e taí o carro andando. Só não tinha mais (ou mais uma vez) onde ser lavado.

Mas logo Silvio encontra uma alternativa. Também em conta, mas de qualidade, no mínimo, questionável. Em frente à Prefeitura – seu ambiente de trabalho – um figura aproveita os carros estacionados e dá um jeitinho ali mesmo. Silvio já sabia disso, mas num dava muita bola. É que o sujeito usa apenas um balde de água para cada carro. Pode ta sujo como for, o bicho faz milagres.

O preço? Bem, começou cobrando R$5. Mas aí lá vem Silvio inventar de virar cliente e começar a divulgar. Logo ele, que conhece gente em tudo que é canto – coisa de artista né. Como se não bastasse ainda inventa um nome: ‘Baixobrilho’, em homenagem, é claro, à sua última experiência com postos de lavagem. Então: agora o carinha não faz por menos de R$7. Seu cliente número um? Silvio Rocha. Toda sexta-feira à tarde o Peugeot ta lá. É só passar e ver.

3 comentários:

  1. E como ele toca, hein?!Silvio anima qualquer festaa! Xorrinho, seu texto é massa, mas não é pq vc alcançou o sucesso profissional, que precisa esnobar seus pobres colegas jornalistas sem lenço e sem documento, neh?! kkkkkkkkkkkkkkk
    bjus
    saudades daquela nossa convivência diária na UfS.

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  2. Esse Silvio Rocha "é uma luta". Vai dizer o quê?

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  3. Muito bom o texto, fala com brilhantismo do nosso tão nobre colega Sílvio Rocha. Sucesso!!!

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