quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sobre pedintes e esmolas

Dar esmolas é sempre complicado. Nunca se sabe qual o destino do agrado. Normalmente quando lhe pedem é por uma causa nobre. Tipo aquela do remédio que custa uma fortuna e que se não for consumido em poucos dias o cara não vai durar muito – e o pedinte tem até uma receita pra comprovar o drama. Mas nunca se sabe. O apelo pode ser bom, mas o destino pode ser outro.

E é justamente por isso que dar esmolas não agrada a muita gente. Eu mesmo não gosto. Digo logo que to sem trocado e pronto: problema resolvido. Aliás, essa é a desculpa mais comum. Ninguém vai argumentar que serve o graúdo mesmo ou que troca o dinheiro pra você. Aí também já seria um tiro no pé.

Mas recentemente passei por uma que não teve jeito. O contexto foi altamente desfavorável à minha capacidade de fugir da situação. Aconteceu no terminal de ônibus Leonel Brizola, aqui em Aracaju, onde a passagem custa R$1,95 – se o cidadão está sem o cartão de passe escolar ou o de vale-transporte, é troco na certa.

Por ter pagado com uma nota de R$5, fui premiado com um monte de moedas. Passei pela catraca enquanto tentava depositá-las no bolso. Mas fui interrompido: “Senhor, me dá uma moedinha dessas pelo amor de Deus”. Era o José Ignácio. Que eu ainda nem sabia quem era, mas procurei saber instantes depois de lhe dar parte do meu troco.

Rapaz esperto. Fica ali, sentado num banquinho bem ao lado da bilheteria do terminal. É pegar no troco e dar de cara com ele. Assim fica difícil negar o pedido. O coitado todo sujo, maltrapilho, com um par de muletas no colo e deseja apenas algumas das moedinhas que você tem em mãos. Não tem nem como dizer que não tem. Ele está vendo!

Já que o ônibus não vinha, conversei um pouco com o José. Quis saber se essa abordagem esperta dá certo mesmo ou se eu é que ando muito caridoso. E dá. De troco em troco, diz ele que chega a tirar uma média de R$30 por dia.

Isso quando tem a oportunidade de pedir por ali. É que o ‘ponto’ é de uma mendiga conhecida. “Quem pede aqui é uma amiga minha”, conta seu José. Mas a amiga viajou e cedeu o espaço. “Aí tô aproveitando né”.

Ao que parece ele até já despertou a curiosidade de outros jornalistas. Deu pra notar quando pedi para tirar uma foto. “Pode sim! Uma vez também pediram pra eu deitar ali perto do ônibus pra tirar uma e eu fui”, comentou todo risonho. Só não entendi ainda a utilidade disso.





6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. eu sinceramente sou a favor da esmola.. cada um tem que fazer sua parte ou o que acha certo ser feito.. se os governantes nao tomam providencias é pq existe alguma coisa errada!!! tento ajudar como posso, entre dinheiro e comida.. o que a pessoa vai fazer com isso depois é problema dela!!! é muita ingenuidade achar que os mendigos ficam 'viciados' em ser pedintes e por isso nao querem trabalhar!! dignidade não é opção é DIREITO!!! é engraçado como a desigualdade social se mostra 'incoveniente' quando atinge o pé da classe média...

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  3. Amigo,
    Essa prática é um pouco controverssa ao analizarmos e muito difícil ainda, tirarmos conclusões, pois a sua grande maioria são pessoas carentes e que não tiveram oportunidades na vida, entretanto, o mercado está sendo ocupado por oportunistas,pais e mães inescrupulosos que usam seus filho(as) para essa pática de arrecadar dinheiro, que poder serm um bom negócio!.
    Veja a materia no meu blog.

    Um abraço,

    http://anselmobittencourt.blogspot.com/2009/02/pedintes-de-rua.html

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  4. Bem dizem os versos de Luiz Gonzaga: "dar esmola a um homem que é sã, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão...'. Boa crônica. Parabéns.

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  5. olá, gostei:)
    Dêem, ricos! A esmola é irmã da prece. ...

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  6. Tudo bem... mas o seu blog já está esmolando um novo texto!
    Amaral

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