sexta-feira, 12 de junho de 2009

Seu Nelson

Pouco provável pensar no forró sem se lembrar da sanfona. Está na essência do tradicional trio pé-de-serra: é ela, mais o triângulo e a zabumba. Menos provável ainda é encontrar sanfoneiro em Sergipe que não conheça o seu Nelson. Afinar acordeon por aqui é só com ele e mais uns dois ou três. "O ano todo tenho trabalho", conta. É tanto trabalho que para dar entrevista só se o interessado insistir muito. "É que não posso perder tempo, ainda mais nesse período", justifica.

Já com 66 anos, seu Nelson Pereira Dias sobrevive do que mais gosta de fazer. Desde os 16 sabe afinar sanfonas. Aprendeu com um amigo, ainda em sua terra natal: o município de Traipu, situado na região centro-sul de Alagoas. Antes disso, aos 12, já tocava com o pai. "Ele era sanfoneiro e me ensinou bem cedo", conta. Sem retorno financeiro, o afinador chegou a tentar a vida em São Paulo. Trabalhou numa metalúrgica, até largar tudo e vir para o município de São Cristóvão.

Há pelo menos dez anos seu Nelson mora no bairro Tijuquinha, numa rua que leva o mesmo nome do município, na residência de número 156. Mas é mais fácil encontrá-lo perguntando às pessoas que moram na região do que procurando pelo endereço. Como muita gente o procura, muita gente o conhece. Assim perdeu as contas de quantos instrumentos já afinou. "Aí já vai pra mais de mil", diz.

A humildade se faz presente em cada detalhe da vida do afinador. Está em seus pés descalços, em seu jeito envergonhado de bater um papo, em suas vestes simples, em sua residência inacabada. Lá vive só com a esposa e fiel companheira Maria Domingues Dias, 57 anos, que conheceu ainda "quando morava nas Alagoas".

Seu trabalho é minucioso. Requer muito cuidado e atenção. "Em cada conserto demoro uns três ou quatro dias". Testa todas as notas, faz os ajustes necessários, lixa quando é preciso. Tudo para deixar o instrumento no tom perfeito. No caminho utiliza dois aparelhos bem pequenos. Um chamado ‘afinador'; o outro, ‘diapasão'. O resto ele mesmo improvisa.

Profundo conhecedor da coisa, seu Nelson conta que a maresia é o maior vilão dos acordeons. "Pra quem toca perto do mar, a ferrugem vem logo", lamenta. Para quem fica longe desse perigo, o afinador dá uma garantia de cerca de dois anos. "É o tempo que dura, mais ou menos, até precisar trazer de novo".

Às vésperas dos festejos juninos, a procura cresce e seu Nelson se desdobra para não deixar de afinar uma só sanfona entre as muitas que recebe. Com as festividades se aproximando, sanfoneiros de todo o Estado não pensam duas vezes antes de ir à sua residência.

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